Documentário filmado em Sabará, “As pedras sempre se encontram”, visibiliza temas de ancestralidade, memórias africanas e indígenas e migrações

Produção da diretora e performer Adriana Chaves em co-direção com a diretora e roteirista Letícia Gois, será lançado no dia 7 de junho, na Borrachalioteca, em Sabará, e prevê seis sessões abertas ao público, seguidas de bate-papo com a autora.

Mai 28, 2025 - 17:58
 0
Documentário filmado em Sabará, “As pedras sempre se encontram”, visibiliza temas de ancestralidade, memórias africanas e indígenas e migrações

Em meados do século XX, Ana Francisca, uma mulher afro-indígena, migra do sertão de Umburanas, na Bahia, para a cidade de Sabará, em Minas Gerais. Décadas depois, sua neta decide visitar a terra natal da família, a fim de resgatar e documentar a história dos seus familiares e concretizar o sonho não realizado da avó, já falecida, de um dia retornar ao local em que viveu. O instrumento que marca essa proposta do retorno às origens é uma fotografia impressa da avó, que a neta leva consigo até as margens do Rio Brumado, cujo traçado corta os fundos das casas de seus parentes maternos, o povoado dos Caetanos uma comunidade tradicional que reside no território a mais de 200 anos numa área conhecida como Umburanas velha. Esse é o ponto de partida do documentário “As pedras sempre se encontram”, da artista mineira Adriana Chaves, que assina a produção e protagoniza o retorno ficcionado de sua avó, Ana Francisca, nessa viagem ao passado. 

A estreia será no dia 7 de junho, em Sabará, com duas sessões na Borrachalioteca. Depois, o filme seguirá com exibições no Cine Bandeirante (dias 14 e 21.06) e na Casa Amarela (dia 28.06). Ao final das exibições, está previsto um bate-papo entre a artista e o público sobre o processo de criação do filme e a fabulação crítica no audiovisual. Este projeto é financiado pela Lei Paulo Gustavo do município de Sabará.

 

Numa narrativa repleta de saudade e memória, “As pedras sempre se encontram” se move pelo conceito de transmigração, refletindo sobre a redefinição corpórea da diáspora africana, a partir da migração transatlântica e das migrações internas nas Américas. Dessa forma, traça uma poética entre as configurações geográfica, estética e ética das duas cidades, Umburanas e Sabará, demonstrando o argumento da historiadora Maria Beatriz Nascimento de que o “ambiente em que nós vivemos até então é uma recuperação do passado”. “A proposta é inscrever uma perspectiva cinematográfica sobre a memória de uma família negra e indígena, periférica e migrante. Trata-se de um trabalho importante diante do processo de apagamento das memórias familiares africanas e indígenas nas narrativas históricas e sociopolíticas hegemônicas no Brasil. Além disso, contrapõe-se à invisibilidade das narrativas de pessoas racializadas nas produções audiovisuais brasileiras, fruto de um racismo institucionalizado”, justifica Adriana Chaves.

 

Na obra, a artista percebe a migração de sua avó como um evento relacionado às experiências coletivas de populações negras no Brasil. “O documentário brinca e mescla a linguagem documental com a linguagem da ficção, evidenciando a possibilidade de reelaborar os fatos e reinventar uma história que sofreu apagamentos, como forma de ir contra a ausência de arquivos e registros dessas memórias”, explica Adriana.

 

Com filmagens em Umburanas e Sabará, onde a família da artista ainda reside, a paisagem ganha destaque na estética do documentário. Além de serem as cidades de deslocamento de Ana Francisca, os locais partilham aspectos em comum, como a existência de um rio próximo à casa dos familiares e de uma linha de trem. “A ruína da estação ferroviária Leste Brasileiro instalada durante o século XX e o Rio Brumado, em Umburanas, assim como a linha ferroviária e o Rio das Velhas, em Sabará, são espaços percebidos através de ângulos e fotografias semelhantes. As imagens são interpostas por relações estéticas, temporais e geográficas que discorrem sobre uma possível reterritorialização da família materna”, avança a diretora.

 

Valorização dos povos – Mais do que um produto cinematográfico, “As pedras sempre se encontram” é um trabalho de revisão histórica familiar que tem a fabulação enquanto meio, na perspectiva de Adriana Chaves. A artista diz que acredita no poder do audiovisual e da música de enunciar memórias de forma sensível e inventiva. “Para mim, ambas são linguagens que permitem a construção e a enunciação de uma narrativa, e nelas nossas formas de sentir e perceber nossas histórias podem ganhar a dimensão que desejarmos”, destaca.

 

 

 

SINOPSE

Anos após a migração de sua avó, entre os estados da Bahia e Minas Gerais, Adriana ficciona o retorno de Ana Francisca à sua terra natal localizada em Umburanas, no Sudoeste baiano. A neta fabula sobre memória e ausência na sua história familiar, através de ações no território onde imaginário e realidade são reelaborados.

 

FICHA TÉCNICA

Direção: Adriana Chaves e Letícia Góis | Produção executiva: Adriana Chaves | Direção de Fotografia: Túlio Cunha | Direção de Som: Arthur Quadra | Produção: Gabriela Chaves | Produção de set: Helena Marques | Figurino e objetos: Agnes Antônia | Assistente de figurino e objetos: Ben Grillo | Trilha sonora: Felipe Rocha | Produção Local: Guilherme Luz | Tipografia: Guilherme Simões | Coloração e edição: Rhuama.

 

 

SERVIÇO:

Lançamento do documentário

 “As pedras sempre se encontram”, de Adriana Chaves

Em Sabará (MG)

 

Sessões:

07 de junho 

Sessões: 16h e 18h

Local: Borrachalioteca

Rua Marieta Machado, 164, Centro – Sabará (MG)

 

14 de junho 

Sessões: 16h (exibição + bate-papo) e 18h

Local: Cine Bandeirante

Rua Luís Cassiano, 60, Centro – Sabará (MG)

 

21 de junho

Sessões: 16h (exibição + bate-papo) e 18h

Local: Cine Bandeirante

Rua Luís Cassiano, 60, Centro – Sabará (MG)

 

28 de junho 

Sessões: 16h e 18h

Local: Casa Amarela

Rua Dom Pedro II, 132, Centro – Sabará (MG)

Qual é a sua reação?

like

dislike

love

funny

angry

sad

wow